Blockchain: A revolução não será centralizada

Phelipe Folgierini
6 min readJan 22, 2016

Esse artigo vai tratar um pouco sobre como funciona a tecnologia pro trás do Bitcoin e demais moedas virtuais e como essa inovação revolucionária não se trata somente de dinheiro, mas de toda a sorte de aplicações cada vez mais presentes na vida humana daqui pra frente.

Se você não sabe o que é bitcoin, recomendo uma pesquisa rápida no Google pra se inteirar melhor. Mas resumindo, é uma moeda virtual totalmente descentralizada — sem uma autoridade central ou mesmo um indivíduo que seja controlando tudo — e que tem se mostrado muito útil e popular no nosso ritmo de vida cada vez mais virtual e conectado.

Se você tem a mínima noção do que é bitcoin, saiba que na verdade é o Blockchain a tecnologia por trás do funcionamento dessa criptomoeda. E essa tecnologia é tão abrangente e com aplicação em tantas áreas que as moedas virtuais não representam sequer uma lasca desse iceberg de possibilidades.

Moedas virtuais e soluções afins criadas utilizando o blockchain prometem levar serviços financeiros irrestrito a todos os cantos do globo terrestre, suprindo um enorme carência desse tipo de serviços em países pobres, zonas remotas e numa parcela ainda pouco explorada da população jovem.

Case: Um jovem africano consegue trabalho no EUA ou Europa e precisa enviar dinheiro para ajudar sua família em seu país de origem. Utilizando os serviços bancários tradicionais ou os serviços de uma empresa especializada, como Western Union, ele pagaria altas taxas, impostos e sua família numa comunidade remota da África subsaariana teria que viajar uma distância considerável até um centro urbano para ter acesso ao dinheiro.

Com uma moeda virtual essa transação seria praticamente instantânea ao custo de alguns centavos e sua família poderia fazer compras utilizando um modelo simples de smartphone, hoje cada vez mais acessível em países pobres.

Da mesma forma um feirante no sul da Ásia pode receber pagamento de um turista de forma rápida, segura, confiável e livre de impostos, mesmo com uma parca conexão de dados. Sem trabalho ou custo com operações de câmbio.

São exemplos pontuais de como essa tecnologia pode tornar acessível diversos serviços que de outra forma não chegariam a uma grande parcela desprivilegiada da população.

Ainda no mercado financeiro, a Nasdaq anunciou recentemente o Linq, sua solução pra bolsa de valores baseada na tecnologia do blockchain e smart contracts. Entre os benefícios estão e descentralização de todo o aparato tecnológico necessário para operar o mercado de ações, com desejáveis efeitos de aumento no desempenho, segurança e confiabilidade das informações, além de maior integração entre os mercados financeiros ao redor do mundo.

Mas como funciona toda essa tecnologia?

Pense na seguinte situação. Você possui uma informação sigilosa, digamos, um contrato onde só você e a contraparte devem ter acesso, além dos respectivos advogados. O contrato concebe que você deve pagar por um produto ou serviço sempre que ele for entregue à você. Em uma situação ideal ninguém viola as cláusulas. Mas digamos que você de repente ficou sem dinheiro e não pode mais pagar por aquele produto ou serviço. O fornecedor, contraparte do contrato, ainda assim fabrica o produto e envia para você. Você rejeita o produto (ou até recebe e não paga) e aí ocorre uma violação do contrato. O fornecedor, que já investiu dinheiro na fabricação do produto, sentindo-se lesado aciona a justiça por violação de cláusulas contratuais. À partir disso se desenrola toda uma novela jurídica que não precisamos descrever aqui.

Como o blockchain resolveria essa situação? Primeiramente o contrato seria criado como blocos (unidades básicas de informação dentro do blockchain). Esses blocos são criptografados com uma chave de segurança e só as partes envolvidas (você, fornecedor, advogados) possuem acesso a essa chave e ao conteúdo dos blocos.

Imagine que existe uma cláusula (ou bloco) no contrato referente ao valor do produto que você deve repassar ao fornecedor. Existe outra cláusula/bloco com as informações da carteira de bitcoins onde será armazenado o saldo para pagamento do fornecedor. A fábrica do fornecedor possui integração com o blockchain. Logo o produto só é fabricado quando o fornecedor valida que existe saldo suficiente na carteira de bitcoins referenciada no contrato.

Existe outra cláusula/bloco no contrato onde o pagamento só deve ser liberado caso o produto seja recebido em perfeitas condições. O fornecedor então despacha um caminhão com o produto até você. O caminhão possui rastreamento por GPS integrado ao blockchain. O recibo é em meio eletrônico também integrado ao blockchain. O pagamento então é liberado automaticamente ao fornecedor quando o caminhão chegar ao destino são e salvo e você “assinar” o recibo eletronicamente (utilizando biometria, seu smartphone, etc).

Caso qualquer cláusula principal falhe ou seja violada, podem existir cláusulas “alternativas” para compensar. E se nada der certo, um juiz pode enfim ter acesso ao contrato e utilizar algum “sistema de processamento jurídico” que diria quem violou o que e como deve ser resolvido o problema.

Achou muito utópico? Pois esse é um tipo de aplicação utilizando smart contracts, uma possibilidade dentre as mais cogitadas para o blockchain. Existem incontáveis soluções em desenvolvimento por aí. Uma busca rápida por smart contracts blockchain e vai ter muita coisa pra aprender à respeito.

Assuntos jurídicos não são bem minha área. Tem mais algum exemplo?

Pra facilitar a compreensão, segue um vídeo bem didático a respeito do funcionamento e potencial do Blockchain:

O exemplo anterior foi só um conceito (smart contracts) muito em voga para o uso dessa tecnologia. Um exemplo mais voltado pro usuário final, o Storj é uma solução para armazenamento de arquivos (semelhante ao Dropbox ou Google Drive) de forma distribuída. Armazenar arquivos dessa forma pode ser de dez e cem vezes mais barato e confiável do que utilizando servidores de armazenamento centralizados.

Conceba a seguinte hipótese. Você possui um documento e não quer que ninguém tenha acesso ao conteúdo do mesmo. Você então fragmenta esse documento em milhares de pedaços e espalha por todos os locais possíveis do globo. Só você sabe onde se encontram os pedaços e como montar tudo novamente para que o documento volte a ser legível. Talvez seja uma forma muito segura de guardar suas informações, mas bem trabalhosa, não é mesmo? Pois o blockchain te dá essa possibilidade.

O Storj faz faz algo parecido com isso. Ele armazena suas informações e criptografa tudo com uma chave que só você tem acesso. As informações são armazenadas de forma distribuída por toda a rede, o que torna o custo de armazenamento muito mais barato. Como nenhuma empresa centraliza os meios de armazenamento, nenhum governo ou outro agente pode acessar suas informações através da força. Dessa forma ninguém, nem o governo, nenhuma empresa, nem sua mãe terão acesso às suas informações.

Ainda dentro de usos populares para a tecnologia, podemos citar a MegaNet, solução anunciada recentemente por Kim Dotcom, criador dos sites de armazenamento Megaupload e Mega, e que promete substituir a internet por uma alternativa descentralizada mais segura, rápida e com foco em privacidade.

O Onename cria sua identidade virtual de forma que você possa provar quem é realmente (como acontece com documentos de identificação oficiais hoje em dia). A proposta é que essa identidade virtual não sirva somente para mera identificação, mas substitua suas senhas, chaves, crachás e outros tipos de identidade que utilizamos no dia-a-dia. Mesmo um passaporte pode se beneficiar dessa tecnologia, trazendo mais segurança, agilidade e maior integração entre as autoridades fronteiriças ao redor do mundo.

Agora deve ter ficado mais claro o quão revolucionária a tecnologia do blockchain pode ser. Inicialmente abstraindo hábitos já consolidados na sociedade para o mundo virtual, o leque de possibilidades é imensurável. Com um pouco de esforço mesmo eu ou você podemos pensar numa nova solução.

A alguns anos o blockchain vem evoluindo e agora começa a mostrar seus frutos. Muito em breve estaremos pagando a conta do restaurante, pegando metrô ou chamando um taxi utilizando o blockchain. Será que estamos preparados pra essa revolução descentralizada?

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